O que te acontece
quando passas pela rua
e imagens te cortam
como garfos e facas
a boca do estômago?
quando de dentro da tua cabine,
hermética, fria e móvel
a realidade soca a tua cara
como uma cusparada certeira
no olho?
Existe sempre um outro caminho
que não o desvio
pois fechar os olhos é cavar o próprio fim
porque as lágrimas são ácidas
pra quem não tem mais força
nem pra chorar
porque a fome é maior
pra quem não tem mais chance
de lutar
e escolher está na mão de poucos!
Há muito.
O que te acontece
quando nada disso te abala?
Achas que tua alma blindada
vai passar por isso
de estrada em estrada
e que nenhum buraco da existência
vai te desalinhar?
Um dia a vida cobra
e aquele anjo sem vestes
da idade do teu filho
que debaixo da chuva
tremia ao te ver aquecido e superior
há de conquistar
comida e liberdade
e te mostrar, pela sensibilidade,
que dia de pouco é véspera da dor,
que a ganância é o câncer da humanidade
e que só o olhar, a generosidade e a gentileza
podem curar o sub do mundo.
Um comentário:
Val, poesia forte.
Não quero uma alma blindada!
Que eu nunca me acostume, é o que peço à minha sensibilidade.
Bj
Postar um comentário