18.7.08

De Manoel de Barros...

Uso a palavra para compor meus silêncios
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
Prezo os insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.

4 comentários:

Cecília Borges disse...

Manoel de Barros!
Na cabeceira tenho "Tratado geral das grandezas do ínfimo". Releio sempre.
Dá pra entender que o simples é o mais bonito.
Um bj, Val.

Anima Mundi disse...

querida val,

que bom ler esse poema pleno de silêncio. às vezes a melhor palavra é mesmo essa que se esconde da gente nas coisas à toa da vida. vamos nos encontrar! quem sabe essa semana?

beijos,
lulu

Monica Ramalho disse...

oi, musa da invencionática! bom esbarrar com manoel por aqui. e melhor ainda é saber que estás gostando dos livros ganhos de aniversário. beijos com amor :))

O Profeta disse...

Errantes sentires percorrem
Este corpo nu de calor
Queda-se a vontade ao vento
Neste deserto de verde amor

Ai este grito contido
É lava rubra em minha garganta
Pio de pássaro preso às penas
Uma reza a fugir de alma santa


Boas férias


Mágico beijo