
Entre um cigarro e outro, disfarçados de par, assovia a mesma melodia, como se, assim, o tempo parasse. Talvez para aliviar a sensação de estar atrasado para nada.
A rua cinza, a capa preta, a chuva, que nem sabe ao certo se ainda está ali, do lado de fora de sua caverna de armar.
Ladrilho vermelho, pedras amarelas e seu vagar.
Por trás dos olhos a incerteza que o faz cochilar em passo profundo.
Aquele homem de capa preta, não sabe, sequer poderá saber.
No abdome, apenas um desejo: tragar, sorver e expulsar. Tragar, sorver e expulsar. Em sua cabeça, nuvens de Magritte. E porta-se como quem quer esconder. E foge como se quisesse sobreviver. E foge cada vez mais para fora de si. Como se quisesse esconder-se e fugir, fugir, fugir.
Aquele homem de capa preta não sabe para onde ir, pois carrega consigo o mal e, ao mesmo tempo, quem dele não pode saber. Aquele homem da capa preta não sabe, sequer poderá saber.
(Imagem: René Magritte)
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